Carta O
Berro......................... .............................. ..repassem
A
"crise do capitalismo global"
23 Fevereiro 2012
Classificado em Internacional - Imperialismo
Classificado em Internacional - Imperialismo
Crédito: Resistir.info | |
– Crise de quem? Quem lucra?
por James Petras [*]
Desde o Financial Times até à
extrema-esquerda, toneladas de tinta têm sido gastas a escrever acerca de alguma
variante da "Crise do capitalismo global". Se bem que os autores divirjam quanto
às causas, consequências e curas, de acordo com as suas luzes ideológicas, há um
acordo comum em que "as crises" ameaçam acabar o sistema capitalista tal como o
conhecemos.
Não há dúvida de que, entre 2008 e 2009, o
sistema capitalista na Europa e nos Estados Unidos sofreu um choque severo que
abalou os fundamentos do seu sistema financeiro e ameaçou levar à bancarrota
seus "sectores principais".
Contudo, argumentarei que as "crises do
capitalismo" foram transformadas em "crises do trabalho". O capital financeiro,
o principal detonador do crash e da crise, recuperou-se, a classe capitalista
como um todo foi fortalecida e, acima de tudo, ela utilizou as condições
políticas, sociais e ideológicas criadas em resultado das "crises" para mais uma
vez consolidar sua dominação e exploração sobre o resto da sociedade.
Por outras palavras, a "crise do capital" foi
convertida numa vantagem estratégica para promover os interesses mais
fundamentais do capital: a expansão de lucros, a consolidação do domínio
capitalista, a maior concentração da propriedade, o aprofundamento de
desigualdades entre capital e trabalho e a criação de enormes reservas de
trabalho para promover o aumento dos seus lucros.
Além disso, a noção de um crise global homogénea
do capitalismo passa por alto as profundas diferenças em desempenho e condições
entre países, classes e grupos etários.
A tese da crise global: O argumento económico e
social
Os advogados da crise global argumentam que
começando em 2007 e continuando até o presente, o sistema capitalista mundial
entrou em colapso e a recuperação é uma miragem. Eles mencionam a estagnação e a
recessão contínua na América do Norte e na Eurozona. Eles apresentam dados do
PIB que variam entre o crescimento negativo e o zero.
A sua argumentação é apoiada por dados que
mencionam dois dígitos de desemprego em ambas as regiões. Frequentemente
corrigem os dados oficiais que minimizam a percentagem desempregada através da
exclusão de trabalhadores desempregados em tempo parcial e a longo prazo. O
argumento da "crise" é fortalecido com a citação dos milhões de proprietários de
casas que foram despejados pelos bancos, pelo aumento agudo da pobreza e da
penúria que acompanha perdas de emprego, reduções de salário e a eliminação ou
redução de serviços sociais. A "crise" também é associada ao aumento maciço de
bancarrotas, principal de pequenos e médios negócios e bancos regionais.
A crise global: A perda de legitimidade
Críticos, especialmente na imprensa financeira,
escrevem acerca de uma "crise de legitimidade do capitalismo" citando inquéritos
que mostram maiorias substanciais a questionarem a justiça do sistema
capitalista, as vastas e crescentes desigualdades e as regras manipuladas pelas
quais bancos exploram a sua dimensão ("demasiado grande para falir") a fim de
atacar o Tesouro a expensas de programas sociais.
Em suma, os advogados da tese de uma "Crise
global do capitalismo" apresentam uma argumentação convincente, demonstrando os
efeitos profundos e generalizados do sistema capitalista sobre a vida da grande
maioria da humanidade.
O problema é que uma "crise da humanidade" (mais
especificamente dos trabalhadores assalariados) não é o mesmo que uma crise do
sistema capitalista. De facto, como argumentaremos adiante, a adversidade social
crescente, o declínio do rendimento e do emprego tem sido um factor importante
que facilitou a recuperação rápida e maciça das margens de lucro da maior parte
das corporações de grande dimensão.
Além disso, a tese de uma crise "global" do
capitalismo combina economias, países, classes e grupos etários díspares com
desempenhos agudamente divergentes em diferentes momentos históricos.
Crise global ou desenvolvimento irregular e
desigual?
É absolutamente louco argumentar a existência de
uma "crise global" quando várias das maiores economias na economia mundial não
sofreram uma grande baixa de actividade e outras recuperaram-se e expandiram-se
rapidamente. A China e a Índia não sofreram sequer uma recessão. Mesmo durante
os piores anos do declínio europeu-estado-unidense, os gigantes asiáticos
cresceram a uma média de cerca de 8%. As economias da América Latina,
especialmente os maiores exportadores agro-minerais (Brasil, Argentina, Chile)
com mercados diversificados, especialmente na Ásia, detiveram-se brevemente (em
2009) antes de assumirem crescimento moderado a rápido (entre 3% e 7%) entre
2010 e 2012.
Ao agregar dados económicos da eurozona como um
todo os advogados da crise global ignoraram as enormes disparidades de
desempenho dentro da zona. Enquanto a Europa do Sul afunda-se numa depressão
profunda e constante, por qualquer medida, desde 2008 até o futuro previsível,
as exportações alemãs em 2011 estabeleceram um recorde de um milhão de milhões
(trillion) de euros; seu excedente comercial atingiu 158 mil milhões de
euros, depois de excedentes de 155 mil milhões de euros em 2010. (BBC News, Feb.
8 2012).
Enquanto o desemprego agregado da eurozona atinge
os 10,4%, as diferenças internas desafiam qualquer noção de uma "crise geral". O
desemprego na Holanda é 4,9%, na Áustria 4,1% e na Alemanha 5,5% com reclamações
do patronato de escassez de trabalho qualificado em sectores chave para o
crescimento.
Por outro lado, no explorado Sul da Europa o
desemprego caminha para níveis de depressão, Grécia 21%, Espanha 22,9%, Irlanda
14,5% e Portugal 13,6% (FT 1/19/12, p.7). Por outras palavras, "a crise" não
afecta adversamente algumas economias, que de facto lucram com a sua dominação
de mercado e fortaleza tecno-financeira em relação a economias dependentes,
devedoras e atrasadas.
Falar de uma "crise global" obscurece as relações
fundamentais dominantes e exploradoras que facilitam a "recuperação" e o
crescimento das economias de elite sobre e contra os seus competidores e estados
clientes. Além disso os teóricos da crise global erradamente amalgamam economias
financeiras-especulativas cavalgadas pela crise (EUA, Inglaterra) com economias
produtivas exportadoras (Alemanha, China).
O segundo problema com a tese de uma "crise
global" é que ela ignora profundas diferenças internas entre grupos etários. Em
vários países europeus a juventude desempregada (16-25) chega a estar entre 30 e
50% (Espanha 48,7%, Grécia 47,2%, Eslováquia 35,6%, Itália 31%, Portugal 30,8% e
Irlanda 29%) ao passo que na Alemanha, Áustria e Holanda o desemprego juvenil
vai dos 7,8% para a Alemanha, 8,2% para a Áustria e 8,6% para a Holanda
(Financial Times 2/1/12, p2).
Estas diferenças fundamentam a razão porque não
há um "movimento juvenil global" de "indignados" e "ocupantes". Diferenças de
cinco vezes entre juventude desempregada não são propícias à solidariedade
"internacional". A concentração dos números do alto desemprego juvenil explica o
desenvolvimento desigual dos protestos de rua em massa centrados especialmente
no Sul da Europa. Também explica porque o movimento "anti-globalização" no Norte
euro-americano é em grande medida um fórum sem vida que atrai explicações
académicas pomposas sobre a "crise capitalista global" e a impotência dos
"Fóruns Sociais" que são incapazes de atrair milhões de jovens desempregados do
Sul da Europa. Eles são mais atraídos para a acção directa.
Teóricos globalistas ignoram o modo específico
pelo qual a massa de jovens trabalhadores desempregados é explorada nos seus
países dependentes cavalgados pela dívida. Eles ignoram o modo específico pelo
qual são dominados e reprimidos por partidos capitalistas de centro-esquerda e
de direita. O contraste é mais evidente no Inverno de 2012. Trabalhadores gregos
são pressionados a aceitar um corte de 20% nos salários mínimos ao passo que
trabalhadores da Alemanha estão a exigir um aumento de 6%.
Se a "crise" do capitalismo se manifesta em
regiões específicas, ela igualmente afecta diferentes sectores etários/raciais
das classes assalariadas. As taxas de desemprego da juventude aos trabalhadores
mais velhos variam enormemente. Na Itália a proporção é 3,5/1, na Grécia 2,5/1,
em Portugal 2,3/1, na Espanha 2,1/1 e na Bélgica 2,9/1. Na Alemanha é 1,5/1 (FT
2/1/12). Por outras palavras, devido aos níveis de desemprego mais altos entre
os jovens eles têm maior propensão para a acção directa "contra o sistema", ao
passo que trabalhadores mais velhos com níveis de emprego mais altos (e
benefícios de desemprego) têm mostrado uma maior propensão para confiar na urna
eleitoral e comprometer-se em greves limitadas sobre questões relacionadas com o
emprego e o pagamento. A vasta concentração do desemprego entre jovens
trabalhadores significa que eles constituem o "núcleo disponível" para a acção
constante; mas também significa que só podem alcançar limitada unidade de acção
com a classe trabalhadora mais velha que experimenta desemprego de um
algarismo.
Contudo, também é verdadeiro que a grande massa
da juventude desempregada proporciona uma arma formidável, nas mãos dos patrões,
para ameaçar substituir trabalhadores empregados mais velhos. Hoje, os
capitalistas recorrem constantemente à utilização dos desempregados para reduzir
salários e benefícios e intensificar a exploração (baptizada como "aumento de
produtividade") para aumentar margens de lucro. Longe de serem simplesmente um
indicador da "crise capitalista", os altos níveis de desemprego têm servido
juntamente com outros factores para aumentar a taxa de lucro, acumular
rendimento, ampliar desigualdades de rendimento as quais aumentam o consumo de
bens de luxo para a classe capitalista: as vendas de automóveis e relógios de
luxo estão florescentes.
Crise de classe: A contra-tese
Contrariando os teóricos da "crise capitalista
global", emergiu uma quantidade substancial de dados que refuta suas suposições.
Um estudo recente informa "Lucros corporativos estado-unidenses estão mais altos
em proporção do produto interno bruto do que em qualquer momento desde 1950" (FT
1/30/12). Os saldos de caixa de companhias dos EUA nunca foram maiores, graças à
exploração intensificada dos trabalhadores e a um sistema de salários
multi-estratificado no qual novos contratados trabalham por uma fracção do que
os trabalhadores mais velhos recebiam (graças a acordos assinados por líderes
sindicais capachos).
Os ideólogos da "crise do capitalismo" ignoraram
os relatórios financeiros das principais corporações estado-unidenses. Segundo o
relatório de 2011 da General Motors destinado aos seus accionistas, eles
celebraram o maior lucro de sempre, revelando um lucro de US$7,6 mil milhões, o
que ultrapassa o recorde anterior de US$6,7 mil milhões em 1997. Uma grande
parte destes lucros resulta do congelamento dos seus fundos de pensão
subfinanciados e da extracção de maior produtividade do menor número de
trabalhadores – por outras palavras, da intensificação da exploração – e do
corte pela metade dos salários horários dos novos contratados. (Earthlink News
2/16/12)
Além disso, a importância agravada da exploração
imperialista é evidente pois a proporção de lucros das corporações
estado-unidenses que é extraída além-mar mantém-se em ascensão a expensas do
crescimento do rendimento dos empregados. Em 2011, a economia dos EUA cresceu em
1,7%, mas a mediana dos salários caiu em 2,7%. Segundo a imprensa financeira,
"as margens de lucro das S&P 500 saltaram de 6% para 9% do PIB nos últimos
três anos. A última vez que foi alcançada tal proporção foi há três gerações. Em
linha gerais um terço, a fatia estrangeira destes lucros, mais do que duplicou
desde 2000" (FT 2/13/12 P9. Se isto é uma "crise capitalista", então quem é que
precisa de um boom capitalista?
Inquéritos a corporações de topo revelam que
companhias estado-unidenses possuem US$1,73 milhão de milhões em cash, "os
frutos do recorde de altas margens de lucro" (FT 1/30/12 p.6). Estas margens de
lucro recorde resultam de despedimentos em massa os quais levaram à
intensificação da exploração dos restantes trabalhadores. Taxas de juro federais
desprezíveis e acesso fácil ao crédito também permitem aos capitalistas
explorarem amplos diferenciais entre a contracção de empréstimos e a concessão
dos mesmos e o investimento. Impostos mais baixos e cortes em programas sociais
resultam numa crescente acumulação de cash das corporações.
Dentro da estrutura corporativa, o rendimento vai
para o topo onde executivos seniores pagam a si próprios bónus enormes. Dentre
as principais corporações S&P 500 a proporção de rendimento que vai para
dividendos de accionistas é a mais baixa desde 1900 (FT 1/30/12, p.6).
Uma crise capitalista real afectaria adversamente
margens de lucro, ganhos brutos e a acumulação de cash. Lucros ascendentes estão
a ser amontoados porque quando capitalistas se aproveitam da exploração intensa
o consumo das massas estagna.
Os teóricos da crise confundem o que é claramente
a degradação do trabalho, a degradação das condições de vida e de trabalho e
mesmo a estagnação da economia, com uma "crise" do capital: quando a classe
capitalista aumenta suas margens de lucros, arrecada milhões de milhões, ela não
está em crise.
O ponto-chave é que a "crise do trabalho" é um
grande estímulo para a recuperação de lucros capitalistas. Não podemos
generalizar de uma para a outra. Não há dúvida de que houve um momento de crise
capitalista (2008-2009) mas graças à maciça transferência de riqueza, sem
precedentes no estado capitalista, do tesouro público para a classe capitalista
– bancos da Wall Street em primeiro lugar – o sector corporativo recuperou, ao
passo que os trabalhadores e o resto da economia permaneceu em crise, foi à
bancarrota e ficou sem trabalho.
Da crise à recuperação de lucros: 2008/9 a
2012
A chave para a "recuperação" de lucros
corporativos tem pouco a ver com o ciclo de negócios e tudo com a tomada de
poder em grande escala da Wall Street e a pilhagem do Tesouro dos EUA. Entre
2009-2012 centenas de antigos executivos da Wall Street, administradores e
conselheiros de investimento apoderaram-se de todas as principais posições
decisiva no Departamento do Tesouro e canalizaram milhões de milhões de dólares
para os cofres das principais financeiras e corporações. Eles intervieram em
corporações financeiramente perturbadas, como a General Motors, impondo grandes
cortes salariais e demissões de milhares de trabalhadores.
Os homens da Wall Street no Tesouro elaboraram a
doutrina do "Demasiado grande para falir" a fim de justificar a transferência
maciça de riqueza. A totalidade do edifício especulativo construído em parte por
um aumento de 234 vezes no volume de transacções cambiais entre 1977-2010 foi
restaurado (FT 1/10/12, p.7). A nova doutrina argumentou que a primeira e
principal prioridade do estado é devolver a lucratividade ao sistema financeiro
a qualquer custo para a sociedade, os cidadãos, os contribuintes e os
trabalhadores.
O "Demasiado grande para falir" é um repúdio
completo dos mais básicos princípios do sistema capitalista de "mercado livre":
a ideia de que aqueles capitalistas que perdem arquem as consequências; que cada
investidor ou presidente de empresa é responsável pela sua acção. Os
capitalistas financeiros já não precisam justificar sua actividade em termos de
qualquer contribuição para o crescimento da economia ou da "utilidade
social".
De acordo com os que agora dominam a Wall Street
deve ser salva porque é a Wall Street, mesmo se o resto da economia e o povo
afundarem (FT 1/20/12, p.11). Os salvamentos e financiamentos do estado são
complementados por centenas de milhares de milhões em concessões fiscais,
levando a défices fiscais sem precedentes e ao crescimento de desigualdades
sociais maciças. O pagamento de um presidente de empresa (CEO) como um múltiplo
do trabalhador médio passou de 24 para 1 em 1965 para 325:1 em 2010 (FT 1/9/12,
p.5).
A classe dominante exibe a sua riqueza e poder
com a ajuda conivente da Casa Branca e do Tesouro. Face à hostilidade popular à
pilhagem do Tesouro pela Wall Street, Obama chegou ao fingimento de pedir ao
Tesouro para impor um teto aos bónus de muitos milhões de dólares que os
presidentes de bancos salvos concediam-se a si próprios. Os homens da Wall
Street no Tesouro recusaram-se a impor a ordem executiva, os CEOs obtiveram
milhares de milhões em bónus em 2011. O presidente Obama continuou, pensando que
enganava o público estado-unidense com o seu gesto falso, enquanto arrecadava
milhões de fundos de campanha junto à Wall Street!
A razão porque o Tesouro foi capturado pela Wall
Street é que nas décadas de 1990 e 2000 os bancos se tornaram uma força
dominante nas economias ocidentais. Sua fatia do PIB subiu drasticamente (de 2%
na década de 1950 para 8% em 2010" (FT 1/10/12, p.7).
Hoje é "procedimento operacional normal" para o
presidente nomear homens da Wall Street para todas as posições económicas chave
e é "normal" para estes mesmos responsáveis prosseguirem políticas que maximizam
lucros da Wall Street e eliminam qualquer risco de fracasso, não importa quão
aventurosos e corruptos sejam os seus praticantes.
A porta giratória: Da Wall Street para o Tesouro
e retorno
A relação entre a Wall Street e o Tesouro
tornou-se efectivamente uma "porta giratória": da Wall Street para o
Departamento do Tesouro para a Wall Street. Banqueiros privados assumem
compromissos no Tesouro (ou são recrutados) para assegurar que todos os recursos
e políticas que a Wall Street são concedidas com o máximo esforço, com o mínimo
obstáculo de cidadãos, trabalhadores ou contribuintes. Os homens da Wall Street
no Tesouro dão a mais alta prioridade à sobrevivência, recuperação e expansão
dos lucros da Wall Street. Eles bloqueiam quaisquer regulamentações ou
restrições a bónus ou a repetições das fraudes do passado.
Os homens da Wall Street "ganham reputação" no
Tesouro e então retornam ao sector privado em posições mais altas, como
conselheiros sénior e sócios. Uma nomeação no Tesouro é uma escada para subir na
hierarquia da Wall Street. O Tesouro é um posto de abastecimento para a Limusine
da Wall Street: o ex homens da Wall Street enchem o tanque, verificam o óleo e
então salvam para o assento da frente e correm para um emprego lucrativo,
deixando o posto de abastecimento (público) pagar a conta.
Aproximadamente 774 executivos saíram do Tesouro
entre Janeiro de 2009 e Agosto de 2011 (FT 2/6/12, p. 7). Todos eles
proporcionaram "serviços" lucrativos para os seus futuros patrões da Wall
Street, descobrindo uma grande maneira de re-entrar nas finanças privadas numa
posição lucrativa mais alta.
Uma notícia no Financial Times Fev. 6,
2012 (p. 7) adequadamente intitulada "Manhattan Transfer" proporcionava
ilustrações típicas da "porta giratória" Tesouro-Wall Street.
Ron Bloom passou de banqueiro júnior no Lazard
para o Tesouro, ajudando a engendrar um salvamento de um milhão de milhões de
dólares da Wall Street e retornou ao Lazard como conselheiro sénior. Jake
Siewert foi da Wall Street tornando-se ajudante principal do secretário do
Tesouro Tim Geithner e então graduado na Goldman Sachs, tendo servido para
solapar qualquer tecto nos bónus da Wall Street.
Michael Mundaca, o mais sénior responsável fiscal
no regime Obama veio da Street e então passou par um posto altamente lucrativo
na Ernst and Young, uma firma corporativa de contabilidade, tendo ajudado a
reduzir impostos corporativos durante o seu período no "gabinete público".
Eric Solomon, um responsável fiscal sénior na
infame isenção de impostos corporativos da administração Bush, fez a mesma
comutação. Jeffrey Goldstein que Obama encarregou da regulação financeira e teve
êxito em solapar exigências populares, retornou ao seu patrão anterior, Hellman
and Friedman, com a adequada promoção pelos serviços prestados.
Stuart Levey que dirigiu as sanções da AIPAC
contra políticas do Irão a partir da chamada "agência anti-terrorista" do
Tesouro foi contratado como advogado geral pelo HSBC para defendê-lo de
investigações de lavagem de dinheiro (FT 2/6/12, p. 7). Neste caso Levey passou
da promoção dos objectivos de guerra de Israel para a defesa de um banco
internacional acusados de lavar milhares de milhões do cartel mexicano. Levey, a
propósito gastou tanto tempo a insistir na agenda iraniana de Israel que ignorou
totalmente a lavagem de dinheiro dos carteis mexicanos da droga com operações
transfronteiriças durante quase uma década.
Lew Alexander, conselheiro sénior de Geithner na
concepção do salvamento de mil milhões de dólares, é agora responsável sénior no
Nomura, o banco japonês. Lee Sachs passou do Tesouro para o Bank Alliance (sua
própria "plataforma de concessão de empréstimos"). James Millstein foi do Lazard
para o Tesouro, salvou a seguradora AIG dirigida abusivamente por Greenberg e
então estabeleceu a sua própria firma privada de investimento tomando consigo um
conjunto de responsáveis do Tesouro bem conectados.
A "porta giratória" Goldman Sachs-Tesouro
continua ainda hoje. Além do passado e actual chefes do Tesouro, Paulson e
Geithner, Mark Patterson, antigo sócio da Goldman, foi recentemente nomeado
"chefe de equipe" de Geithner. Tim Bowler, antigo administrador director foi
nomeado por Obama para chefe da divisão de mercados de capital.
Deveria ser perfeitamente claro que eleições,
partidos e os mil milhões de dólares de campanhas eleitorais têm pouco a ver com
"democracia" e mais a ver com a selecção dos presidente e dos legisladores que
nomearão homens não eleitos da Wall Street para tomarem todas as decisões
económicas estratégicas para 99% dos americanos. Os resultados da porta
giratória Wall Street-Tesouro são claros e proporcionam-nos uma estrutura para
entender porque a "crise do lucro" desvaneceu-se e a crise do trabalho
aprofundou-se.
Os "alcances políticos" da porta giratória
O conluio Wall Street-Tesouro (CWST) tem
desempenhado um trabalho hercúleo e audacioso para o capital financeiro e
corporativo. Face à condenação universal da Wall Street pela vasta maioria do
público pelas suas fraudes, bancarrotas, perdas de empregos e arrestos
hipotecários, o CWST apoiou publicamente os trapaceiros com um salvamento de um
milhão de milhões de dólares. Um movimento ousado face a isto, como se maiorias
e eleições contassem para alguma coisa. Igualmente importante é que o CWTS
lançou ao lixo toda a ideologia do "livre mercado" que justificava lucros dos
capitalistas com base nos seus "riscos", pela imposição do novo dogma do
"demasiado grande para falir" pelo qual o tesouro do estado garante lucros mesmo
quando capitalistas enfrentam a bancarrota, desde que sejam firmas de milhares
de milhões de dólares.
O CWST também jogou no lixo o principio
capitalista da "responsabilidade fiscal" em favor de centenas de milhares de
milhões de dólares de isenções fiscais para a classe dominante
corporativo-financeira, provocando défices orçamentais recordes em tempo de paz
e tendo então a audácia de culpar os programas sociais apoiados pelas maiorias
populares. (Será de admirar que estes ex-responsáveis do Tesouro obtenham
ofertas tão lucrativas no sector privado quando abandonam o gabinete
público?)
Em terceiro lugar, o Tesouro e o Banco Central
(Federal Reserve) proporcionam empréstimos a juro próximo de zero que garantem
grandes lucros a instituições financeiras privadas as quais tomam emprestado a
juro baixo do Fed e concedem empréstimos a juro alto (incluindo o Governo!)
especialmente na compra de governos além mar e títulos corporativos. Eles
recebem em qualquer lugar de quatro a dez vezes as taxas de juro que pagam.
Por outras palavras, os contribuintes
proporcionam um monstruoso subsídio à especulação da Wall Street. Com a condição
acrescentada de que hoje estas actividades especulativas são agora assegurados
pelo governo federal, sob a doutrina do "Demasiado grande para falir".
Sob a ideologia da "recuperação da
competitividade", a equipe económica de Obama (desde o Tesouro até o Federal
Reserve, o Departamento do Comércio e o do Trabalho) encorajaram o patronato a
empenhar-se no mais agressivo despedimento acelerado (shedding) de
trabalhadores da história moderna. A produtividade e a lucratividade aumentadas
não são o resultado de " inovação" como proclamam Obama, Geithner e Bernache;
são produto de uma política de estado quanto ao trabalho que aprofunda a
desigualdade pela manutenção de salários baixos e margens de lucro em ascensão.
Menos trabalhadores a produzirem menos mercadorias. Crédito barato e salvamentos
para os bancos de milhares de milhões de dólares e nenhum refinanciamento para
casas e firmas de pequena e média dimensão que levam a bancarrotas, absorções
(buyouts) e nomeadamente "consolidação", maior concentração de
propriedade. Em resultado o mercado de massa estagna mas os lucros corporativos
e dos bancos alcançam níveis recorde. Segundo peritos financeiros, sob a "nova
ordem" do CWST "os banqueiros são uma classe protegida que desfruta de bónus sem
relação com o desempenho, enquanto confia no contribuinte para socializar suas
perdas" (FT 1/9/12, p.5).
Em contraste, o trabalho, sob a equipe económica
de Obama, enfrenta a maior insegurança e a mais ameaçadora situação da história
recente: "o que é inquestionavelmente novo é a ferocidade com que os negócios
nos EUA sangra o trabalho agora que o pagamento dos executivos e os esquemas de
incentivo estão ligados a objectivos de desempenho a curto prazo" (FT 1/9/2012,
p. 5).
Consequências económicas de políticas de
estado
Por causa da captura pela Wall Street das
posições estratégicas no governo quanto à política económica, podemos entender o
paradoxo de margens de lucro recordes em meio à estagnação económica. Podemos
compreender porque a crise capitalista, pelo menos a curto prazo, foi
substituída por uma profunda crise do trabalho.
Dentro da matriz de poder da Wall
Street-Departamento do Tesouro, retornaram todas as velhas e corruptas práticas
de exploração que levaram ao crash de 2008-2009: bónus multi-bilionários para
banqueiros de investimento que conduziram a economia ao crash; bancos "a
apanharem rapidamente milhares de milhões de dólares de produtos hipotecários
empacotados que recordam a dívida fatiada e jogada aos dados que alguns (sic)
culpam pela crise financeira" (FT 2/8/12, p.1). A diferença hoje é que estes
instrumentos especulativos são agora apoiados pelo contribuinte (Tesouro). A
supremacia da estrutura financeira da economia estado-unidense anterior à crise
está em vigor em próspera ... "só" a força de trabalho dos EUA afundou no maior
desemprego, declínio de padrões de vida, insegurança generalizada e profundo
descontentamento.
Conclusão: O processo contra o capitalismo e pelo
socialismo
A crise profunda de 2008-2009 provocou um jorro
de questionamentos do sistema capitalista, mesmo entre muitos dos seus mais
ardentes advogados a crítica abunda (FT 1/8/12 a 1/30/12). "Reforma,
regulamentação e redistribuição" eram o cardápio de colunistas financeiros. Mas
a classe dominante na economia e no governo não lhe presta atenção. Os
trabalhadores são controlados por líderes sindicais capachos e falta-lhe um
instrumento político. Os pseudo populistas de direita abraçam uma agenda pró
capitalista ainda mais virulenta, clamando pela eliminação total de programas
sociais e impostos corporativos.
Dentro do estado, verificou-se uma grande
transformação que efectivamente esmagou qualquer ligação entre capitalismo e
estado previdência, entre a tomada de decisões pelo governo e o eleitorado. A
democracia foi reatada por um estado corporativo, fundamentado na porta
giratória entre o Tesouro e a Wall Street, a qual canaliza riqueza pública para
cofres dos financeiros privados. A brecha entre o bem-estar da sociedade e as
operações da arquitectura financeira é definitiva.
A atividade da Wall Street não tem utilidade
social; seus praticantes enriquecem-se sem actividade que os redima. O
capitalismo demonstrou conclusivamente que prospera através da degradação de
dezenas de milhões de trabalhadores e rejeita as súplicas infindáveis por
reforma e regulamentação. O capitalismo real existente não pode ser arreado para
elevar padrões de vida ou assegurar emprego livre do medo de despedimentos em
grande escala, súbitos e brutais. O capitalismo, como experimentamos ao longo da
última década e no futuro previsível, está em oposição polar à igualdade social,
à tomada de decisões democráticas e ao bem-estar colectivo.
Lucros capitalistas recordes são ampliados pela
pilhagem do tesouro público, negando pensões e prolongando "trabalho até que
você morra", levando famílias à bancarrota com exorbitantes custos corporativos
de medicina e educação.
Mais do que nunca na história recente, maiorias
recordes rejeitam o domínio por e para os banqueiros e a classe dominante
corporativa (FT 2/6/12, p. 6). Desigualdades entre os 1% do topo e a base dos
99% atingiram proporções recordes. Presidentes de empresas ganham 325 vezes mais
do que um trabalhador médio (FT 1/9/12, p.5). Desde que o estado tornou-se um
"fundamento" da economia dos predadores da Wall Street, e desde que a "reforma"
e regulamentação fracassaram tristemente, é tempo de considerar uma
transformação sistémica fundamental que abra caminho a uma revolução política a
qual forçosamente expulsará as elites financeiras e corporativas não eleitas que
dirigem o estado para os seus próprios exclusivos interesses.
A totalidade do processo político, incluindo
eleições, está profundamente corrompida: cada nível de gabinete tem o seu
próprio preço inflacionado. A actual disputa presidencial custará US$2 a US$3
mil milhões de dólares para determinar qual dos servidores da Wall Street
presidirá sobre a porta giratória.
O socialismo já não é a palavra assustadora do
passado. O socialismo envolve a reorganização em grande escala da economia, a
transferência de milhões de milhões dos cofres das classes predadoras de nenhuma
utilidade social para o bem-estar público. Esta mudança pode financiar uma
economia produtiva e inovadora baseada no trabalho e no lazer, no estudo e no
desporto.
O socialismo substitui o terror diário da
demissão pela segurança que traz confiança, segurança e respeito ao lugar de
trabalho. A democracia no lugar de trabalho está no cerne da visão de socialismo
do século XXI. Começamos por nacionalizar os bancos e eliminar a Wall Street. As
instituições financeiras são redesenhadas para criar emprego produtivo, servir o
bem-estar social e preservar o ambiente. O socialismo começaria a transição, de
uma economia capitalista dirigida por predadores e trapaceiros e um estado sob o
seu comando, rumo a uma economia de propriedade pública sob controle
democrático.
[*] O seu livro mais recente é The Arab Revolt
and the Imperialist Counter Attack, Clarity Press, 2012, 2ª edição.
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/ index.php?context=va&aid=29388
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
.
__._,_.___
______________________________
No hay comentarios:
Publicar un comentario