Carta O
Berro......................... .............................. ...repassem
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– 18 DE JULHO DE 2012 -- Outras
Palavras
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Livro
aponta as principais ilusões norteamericanas e como sua soberba e política
externa gereram tanta crise, tanto ao mundo quanto a si
Por
Paulo Nogueira, em seu blog
Morris
Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena conhecer.
Acabo
de ler “Por Que os Estados Unidos Fracassaram”, dele. A primeira coisa que me
ocorre é: tomara que alguma editora brasileira se interesse por este pequeno –
196 páginas — grande livro.
A
questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma
compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão
dramático.
O
argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a
busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.
Berman
cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em
um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob
indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava
morta.
“O
psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de
comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da
falta de solidariedade”, diz Berman. “Basicamente, é um termo elegante para
designar quem não dá a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier
sustenta que solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos
americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão
interior.”
Berman
afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas
nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência
de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você
quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um
cachorro.”
O
americano médio, diz ele, acredita no “mito” da mobilidade social. Berman nota
que as estatísticas mostram que a imensa maioria das pessoas nos Estados Unidos
morrem na classe em que nasceram. Ainda assim, elas acham que um dia vão ser
Bill Gates. Têm essa “alucinação”, em vez de achar um absurdo que alguém possa
ter mais de 60 bilhões de dólares, como Bill Gates.
“Estamos
assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é
encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou
exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar. Nossa
política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os
Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica)
interna criou a crise mundial de 2008.”
A
soberba americana é sublinhada por Berman em várias situações. Ele cita,
por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por
algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.” Essa fala
foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado
engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve
sobreviventes.
Berman
evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3
milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo
americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo
que nosso exército estava fazendo? É uma ironia que, depois de tudo, os reais
selvagens sejamos – nós.”
Você
pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada –
de seu país pode viver nele?
A
resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que
segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela
mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração. “Mudei para o México
porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional,
e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma
decência humana no México que não existe nos Estados
Unidos.”
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