Carta O
Berro......................... .............................. ...repassem
Publicado em
20-Jul-2012
Blog do Zé -
Correspondente da Carta Maior em Berlim (Alemanha), o jornalista
Flávio Aguiar analisa o “lado mais sinistro do sistema bancário internacional”
que, desde 2008, absorve bilhões de euros arrancados do poder aquisitivo da
população para impor uma “austeridade fiscal” recessiva, “depressora, depressiva
e deprimente enquanto continua o engorde das taxas de juro extorsivas cobradas
para refinanciar a dívida pública”. Como se isso já não fosse suficientemente
sinistro, eles ainda manipulam indicadores – é o caso do inglês Barclays – ou
lavam dinheiro do narcotráfico, como o Senado dos EUA provou sobre o HSBC de
2002 a 2009.
A análise está no artigo intitulado “O lado mais sinistro do sistema bancário”:
A análise está no artigo intitulado “O lado mais sinistro do sistema bancário”:
19/7/2012
14:09, Por Flávio Aguiar - de Berlim
De crise em crise, de susto em susto, de
revelação em revelação, vem à tona dia após dia o lado mais sinistro do sistema
bancário internacional.
Desde 2008, em que pese o esforço midiático de concentrar fogo e visões em torno das “crises das dívidas soberanas”, foi ficando evidente o quanto a desregulamentação do sistema financeiro internacional custou aos cofres públicos das nações – daquelas em crise aberta (como a Grécia) e daquelas que aparentemente sobrenadam no dilúvio (caso da Alemanha). Naquelas, sonhos coletivos e individuais se transformam em pesadelos, enquanto direitos individuais e coletivos se desmancham no ar ou às custas de cassetadas ou bombas de gás lacrimogênio nas ruas.
Desde 2008, em que pese o esforço midiático de concentrar fogo e visões em torno das “crises das dívidas soberanas”, foi ficando evidente o quanto a desregulamentação do sistema financeiro internacional custou aos cofres públicos das nações – daquelas em crise aberta (como a Grécia) e daquelas que aparentemente sobrenadam no dilúvio (caso da Alemanha). Naquelas, sonhos coletivos e individuais se transformam em pesadelos, enquanto direitos individuais e coletivos se desmancham no ar ou às custas de cassetadas ou bombas de gás lacrimogênio nas ruas.
Bilhões de euros são arrancados do poder
aquisitivo da população para impor uma “austeridade fiscal” recessiva,
depressora, depressiva e deprimento enquanto continua o engorde das taxas de
juro extorsivas cobradas para refinanciar a dívida pública, que certamente não
serão pagas por nenhum sistema bancário ou financeiro, mas novamente
pelas camadas mais frágeis da população, às custas de arcarem com mais
pesadelos. Nas que guardam algum resíduo de organização e prosperidade – como a
Alemanha – bilhões de euros foram e são transferidos para bancos, oriundos de
fundos públicos, quer dizer, também do bolso de contribuintes e trabalhadores,
para cobrir contas abertas nacionais e internacionais.
Mas nos últimos dias mais lados sinistros – e
mais sinistros – vieram à tona. Semanas atrás foi o caso da manipulação da taxa
Libor da banca britânica, promovida pelos representantes do banco Barclays na
Associação de Bancos de Londres para favorecer a obtenção e/ou a manutenção de
clientes investidores. O banco manipulava seus dados e induzia a manipulação da
Libor por parte das autoridades financeiras londrinas para baixo, para parecer
mais saudável do que era, a fim de manter clientes; ou inchava a taxa para
prometer melhor remuneração para atrair clientes em épocas de escassez. E as
autoridades – inclusive do Banco da Inglaterra engoliam as pílulas – isso, pelo
menos, de 2007 a 2010. Os prejuízos são incalculáveis, uma vez que a taxa Libor,
além de incidir pobre empréstimos entre bancos britânicos, era uma referência
mundial no setor.
Agora foi a vez do HSBC. Uma investigação de mais
de ano, feita pelo Senado norte-americano, concluiu insofismavelmente que a
seção norte-americana do banco lavou dinheiro dos cartéis mexicanos de
narcotráfico de 2002 a 2009, apesar dele ter sido advertido por agentes do fisco
e até por investigações internas de seus próprios
funcionários.
Na terça-feira isso redundou numa sessão
humilhante para altos executivos do banco, que renunciaram a seus cargos numa
sessão pública do comitê do Senado, embora negassem ter “conhecimento completo”
das contravenções. Já antes houve uma espécie de “mea culpa” por parte do banco
perante um comitê semelhante de autoridades britânicas do setor
financeiro.
Além disso, o banco (sempre a seção
norte-americana) foi acusado por uma série de outras contravenções, indo desde
negócios ocultos com finanças sírias e iranianas, à prestação de serviços para
instituições financeiras da Arábia Saudita e de Bangladesh suspeitas de terem
financiado em parte a Al Qaeda.
O Barclays já pagou 450 milhões de libras em
indenizações a clientes que se julgaram lesados. O Serviço da Autoridade
Financeira de Londres vai ser extinto e substituído por outra agência, além de
parte de suas atribuições passarem para o Banco da Inglaterra. O HSBC promete
uma revisão de seu sistema interno de segurança.
A ver, para crer.
Flávio Aguiar é correspondente internacional
da Carta Maior em Berlim.
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Já é hora de discutirmos
nosso sistema bancário
5/7/2012 12:08, Por José Dirceu
Em evento da
FIESP ontem (4), em São Paulo, o ministro Guido Mantega, da Fazenda e o
banqueiro presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal, divergiram publicamente
sobre os “spreads” bancários no Brasil. Guido considerou que os lucros dos
bancos no país são elevados. Setúbal saiu-se com essa: “O lucro do banco é
grande porque os bancos são grandes”.
Acontece que bancos grandes são um grande risco, como estamos
vendo na Europa. Eles colocam em risco as economias dos países e do mundo
inteiro, como vem ocorrendo desde 2008. São dezenas de grandes bancos envolvidos
em escândalos, fraudes e manipulações. O que está nas manchetes dos jornais no
mundo inteiro agora é o Barclays, da Grã Bretanha.
Segundo as denúncias, o banco inglês, um dos maiores do poaís,
manipulava a taxa Libor, que são os juros usados pelos bancos para emprestar
dinheiro uns aos outros (Libor significa London Interbank Offered Rate e serve
de referência para as taxas de juros pagas todos os dias por milhões de pessoas
nos créditos imobiliários, nos cartões de crédito, no financiamento estudantil,
nos seguros etc.). A variação na Libor afeta o retorno de investidores
profissionais e os custos de financiamento para pessoas e empresas. A partir
deste novo escândalo, os ingleses estão discutindo como melhor o controle sobre
os bancos.
Spreads: dá para reduzir!
Aqui no Brasil, os problemas em relação aos bancos se
manifestam de forma diferente. No momento, a questão em discussão diz respeito
ao tamanho do spread. Spread é um termo em inglês usado para expressar a
diferença entre Guido Mantegao que o banco paga ao aplicador para captar um
recurso e quanto cobra para emprestar esse mesmo dinheiro. Segundo o banqueiro,
a crença de que os juros bancários são elevados no Brasil por causa do lucro dos
bancos não é verdadeira e a ideia de que a redução do spread implica a redução
da margem de lucro “não funciona bem”. Mantega retrucou, com razão, que o Brasil
tem “talvez o maior spread do mundo”, o que não se justifica. E desafiou: “Vocês
(banqueiros) têm de ganhar mais no volume e menos na taxa, essa é a filosofia
que eu procuro implementar nos bancos públicos. Dá para fazer
mais”.
Concordo com o ministro. Nada justifica spreads tão elevados.
Recomendo a vocês a leitura de um trabalho realizado pelo Dieese, departamento
de pesquisa mantido por um grupo de sindicatos brasileiros. No estudo foram
levantados os dados de 13 países. O Brasil é o maior spread, de 27,8%, seguido
do Paraguai, com 26,9%. Sete dos países incluídos no estudo têm spreads
inferiores a 5%. Entre os itens que integram os spreads está o lucro dos bancos
(para quem quiser se inteirar mais da questão, recomendo a leitura do trabalho
citado, a Nota Técnica 109, de abril deste ano. Clique aqui para acessar em
PDF).
Mas, o que o banqueiro não disse é que além de grandes os dois
maiores bancos brasileiros – Itaú e Bradesco – formam quase um duopólio. Num
contexto como esses fica fácil definir a taxa de lucro que eles querem
manter.
Ou seja, no mundo inteiro os bancos estão na berlinda. São os
principais responsáveis pelas crises atuais nas finanças mundiais. Aqui no
Brasil eles não estão em crise, mas se não fosse a presença dos bancos públicos,
não teríamos expandido o crédito e reduzido os juros e o país teria sido
arrastado para a crise de 2008-2009. Também estaríamos bem pior na atual crise.
Repito: concorrência é o que precisamos no setor financeiro.
E, para conseguir ampliar a concorrência aí, está na hora de o país fazer uma
boa discussão sobre o que acontece com o seu sistema bancário e com os bancos
que aqui atuam.
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