Vanderley
Esse caso de Paulo Fonteles cito no meu livro A FAMÍLIA CANUTO E A LUTA CAMPONESA NA AMAZÔNIA. É lamentável que a imprensa burguesa não divulgue esse livro. Se você puder divulgue para mantermos a chama viva. O mesmo pode ser adquirido em livrarias ou www.osebocultural.com.br ou através na do meu email ccartaxo@hotmail.com. Veja informações abaixo.
Obrigado
Carlos Cartaxo
Esse caso de Paulo Fonteles cito no meu livro A FAMÍLIA CANUTO E A LUTA CAMPONESA NA AMAZÔNIA. É lamentável que a imprensa burguesa não divulgue esse livro. Se você puder divulgue para mantermos a chama viva. O mesmo pode ser adquirido em livrarias ou www.osebocultural.com.br ou através na do meu email ccartaxo@hotmail.com. Veja informações abaixo.
Obrigado
Carlos Cartaxo
A
Família Canuto e a Luta Camponesa na Amazônia
A Família Canuto e A Luta Camponesa na
Amazônia é um romance, publicado em 1999 pela editora da UFPA, cujo
conteúdo preenche uma lacuna da história brasileira no período entre a Guerrilha
do Araguaia e a Nova República.
João Canuto, o chefe da família, contribuiu para a organização política e
sindical na região Sul do estado do Pará, norte do Brasil. Fundou o Sindicato
dos Trabalhadores Rurais, atuou no movimento de base da Igreja Católica e foi
candidato na primeira eleição à Prefeitura de Rio Maria. Por poucos votos não
foi eleito. Enfrentou o crime organizado que matava os trabalhadores rurais como
se fossem bichos do mato. Lutou contra a impunidade dos assassinos e dos
mandantes de camponeses, por isso foi assassinado. Infelizmente o processo de
julgamento dos assassinos e mandantes do crime contra João Canuto nunca foi
concluído.
Os filhos de João Canuto deram continuidade a sua luta em prol dos
trabalhadores do campo. José, Paulo e Orlando foram seqüestrados e metralhados,
apenas Orlando conseguiu escapar perfurado de balas.
A Família Canuto de luto e desestruturada se refugiou em
Belém.
Essa é mais uma estória que fere vergonhosamente a Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
O livro foi premiado pela Câmara
Brasileira do Livro com o Jabuti de
Literatura na categoria romance/reportagem em 2001. Esse é um dos
principais prêmios de literatura da América Latina. Edição da EDUFPA, 1999. 384
páginas. R$ 38,00.
Anatomia
da resistência no latifúndio amazônico
Domingos
Meirelles*
Ao
resgatar a tragédia que se abateu sobre o clã dos Canuto no Sul do Pará, Carlos
Cartaxo produziu um relato comovente de uma das páginas mais sórdidas da
vergonhosa história do latifúndio na região amazônica: o confronto desigual e
perverso entre os grandes fazendeiros e os trabalhadores rurais que lutam para
sobreviver, num ambiente desapiedado e hostil, onde o código gelatinoso das leis
se orienta mais pelo tilintar das moedas do que pela boa aplicação do
direito.
Nessa
terra de ninguém, onde os interesses econômicos se amancebam com a impunidade e
a corrupção, é que trafega a narrativa romanesca de Cartaxo, em sua denúncia
social sobre os crimes cometidos no rastro do destrambelhado processo de
ocupação da Amazônia promovido pelos governos militares, a partir de 1964. Com
um texto claro e contundente, despojado de arabescos literários, mas com sabor
de romance, o autor nos conduz pela trilha de esperanças que João Canuto
percorreu, do interior de Goiás ao Sul do Pará, onde seus sonhos foram
enterrados junto com ele.
O
tom romanesco que perpassa as páginas do livro, onde a mistura de jornalismo e
literatura tem o compromisso de realçar a denúncia das misérias do campo, não
compromete o caráter documental da obra; ao contrário, imprime ao relato de
Cartaxo extraordinária dimensão humana, sem que ele se deixe contaminar pela
criação de heróis bem construídos, criados ou revelados em narrativas
semelhantes, como é comum no gênero. Os personagens que recolheu entre as muitas
desgraças que povoam Rio Maria foram reconstituídos com alma, carne e ossos, sem
que o autor lhe conferisse uma aura que os singularizasse como “seres
excepcionais”. Cartaxo não forjou mitos – ele fala apenas de homens e mulheres,
gente pobre do campo que não se curvou diante da opressão e do arbítrio. Com a
precisão e a clareza de uma aula de anatomia, ele expôs as misérias e grandezas
de uma família de camponeses que se transforma num exemplo de resistência diante
da espoliação dos fazendeiros da região.
Em
sua maioria representantes de uma burguesia emergente e arrogante, vinda de
outros lugares, os grandes proprietários não suportam a coragem, a determinação
e a altivez dos Canuto – João, a mulher Geraldina e os filhos ainda
adolescentes. Acusado de invadir fazendas, quase todas latifúndios improdutivos,
em companhia de posseiros expulsos de outras roças, Canuto atrai o ódio dos
novos ricos empenhados em aumentar seu patrimônio a qualquer preço na floresta
amazônica. Em Rio Maria, havia ainda outro bom motivo para que essa oligarquia
moderna, “cria da ditadura militar”, detestasse a presença de Canuto naquele
lugar: ele era também um dos mais ativos militantes do PC do B na
região.
Numa
tarde escaldante de dezembro de 1985, João Canuto foi tocaiado e morto por dois
pistoleiros de aluguel com 14 tiros à queima roupa, um deles na cabeça, um pouco
acima da sobrancelha direita. Foi morto na rua, para que todos vissem. A
multidão compungida, que acompanhou seu corpo pelas ruas, entoava hinos
religiosos e cantava a música Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de
Geraldo Vandré. Canuto foi enterrado no novo cemitério de Rio Maria, onde a
maioria das covas abriga centenas de posseiros, vítimas como ele, da violência
no campo.
A
cena do enterro é uma das páginas mais comoventes do livro. Nas faixas que
seguiam à frente do cortejo, lia-se uma palavra de ordem: “Reforma Agrária, Já!”
Na floresta de estandartes e galhardetes, que seguia o caixão, viam-se bandeiras
do PC do B e do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Rio Maria.
O
fazendeiro mandante do crime foi solto através de habeas corpus. Os assassinos
foram também contemplados com o mesmo benefício. Libertado, o mandante deixou a
região, cumpriu breve exílio voluntário em Goiás, e quando o caso esfriou,
retornou a seus afazeres, no Sul do Pará.
O
Processo foi engavetado e ninguém foi condenado. A família Canuto ainda perdera
mais dois filhos, executados a mando do latifúndio. Em 93, permaneci dez dias em
Rio Maria produzindo um Globo Repórter. Então, pude entender porque a violência
e a impunidade se apossaram daquela região.
O
livro de Cartaxo é um comovente libelo contra a barbárie no campo.
*
Jornalista, apresentador do programa “Linha Direta” da Rede Globo, e escritor,
autor de “As Noites das Grandes Fogueiras – Uma História da Coluna Prestes”,
entre outras obras.
Resenha
publicada na Revista “Saber” , Ano I – Nº 3, julho/agosto 2001, p.
31.
Carlos Cartaxo
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