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domingo, 17 de junio de 2012

Tinkunaco 0846/12 Re: [Carta O BERRO] Livro Canuto 25 anos do assassinato de Paulo Fonteles

Carta O Berro.........................................................repassem

 
Vanderley
Esse caso de Paulo Fonteles cito no meu livro A FAMÍLIA CANUTO E A LUTA CAMPONESA NA AMAZÔNIA. É lamentável que a imprensa burguesa não divulgue esse livro. Se você puder divulgue para mantermos a chama viva. O mesmo pode ser adquirido em livrarias ou www.osebocultural.com.br ou através na do meu email ccartaxo@hotmail.com.  Veja informações abaixo.
Obrigado
Carlos Cartaxo
 

A Família Canuto e a Luta Camponesa na Amazônia

            A Família Canuto e A Luta Camponesa na Amazônia é um romance, publicado em 1999 pela editora da UFPA, cujo conteúdo preenche uma lacuna da história brasileira no período entre a Guerrilha do Araguaia e a Nova República.
            João Canuto, o chefe da família, contribuiu para a organização política e sindical na região Sul do estado do Pará, norte do Brasil. Fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, atuou no movimento de base da Igreja Católica e foi candidato na primeira eleição à Prefeitura de Rio Maria. Por poucos votos não foi eleito. Enfrentou o crime organizado que matava os trabalhadores rurais como se fossem bichos do mato. Lutou contra a impunidade dos assassinos e dos mandantes de camponeses, por isso foi assassinado. Infelizmente o processo de julgamento dos assassinos e mandantes do crime contra João Canuto nunca foi concluído.
            Os filhos de João Canuto deram continuidade a sua luta em prol dos trabalhadores do campo. José, Paulo e Orlando foram seqüestrados e metralhados, apenas Orlando conseguiu escapar perfurado de balas.
            A Família Canuto de luto e desestruturada se refugiou em Belém.
            Essa é mais uma estória que fere vergonhosamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
            O livro foi premiado pela Câmara Brasileira do Livro com o Jabuti de Literatura na categoria romance/reportagem em 2001. Esse é um dos principais prêmios de literatura da América Latina. Edição da EDUFPA, 1999. 384 páginas. R$ 38,00.


Anatomia da resistência no latifúndio amazônico
Domingos Meirelles*
Ao resgatar a tragédia que se abateu sobre o clã dos Canuto no Sul do Pará, Carlos Cartaxo produziu um relato comovente de uma das páginas mais sórdidas da vergonhosa história do latifúndio na região amazônica: o confronto desigual e perverso entre os grandes fazendeiros e os trabalhadores rurais que lutam para sobreviver, num ambiente desapiedado e hostil, onde o código gelatinoso das leis se orienta mais pelo tilintar das moedas do que pela boa aplicação do direito.
Nessa terra de ninguém, onde os interesses econômicos se amancebam com a impunidade e a corrupção, é que trafega a narrativa romanesca de Cartaxo, em sua denúncia social sobre os crimes cometidos no rastro do destrambelhado processo de ocupação da Amazônia promovido pelos governos militares, a partir de 1964. Com um texto claro e contundente, despojado de arabescos literários, mas com sabor de romance, o autor nos conduz pela trilha de esperanças que João Canuto percorreu, do interior de Goiás ao Sul do Pará, onde seus sonhos foram enterrados junto com ele.
O tom romanesco que perpassa as páginas do livro, onde a mistura de jornalismo e literatura tem o compromisso de realçar a denúncia das misérias do campo, não compromete o caráter documental da obra; ao contrário, imprime ao relato de Cartaxo extraordinária dimensão humana, sem que ele se deixe contaminar pela criação de heróis bem construídos, criados ou revelados em narrativas semelhantes, como é comum no gênero. Os personagens que recolheu entre as muitas desgraças que povoam Rio Maria foram reconstituídos com alma, carne e ossos, sem que o autor lhe conferisse uma aura que os singularizasse como “seres excepcionais”. Cartaxo não forjou mitos – ele fala apenas de homens e mulheres, gente pobre do campo que não se curvou diante da opressão e do arbítrio. Com a precisão e a clareza de uma aula de anatomia, ele expôs as misérias e grandezas de uma família de camponeses que se transforma num exemplo de resistência diante da espoliação dos fazendeiros da região.
Em sua maioria representantes de uma burguesia emergente e arrogante, vinda de outros lugares, os grandes proprietários não suportam a coragem, a determinação e a altivez dos Canuto – João, a mulher Geraldina e os filhos ainda adolescentes. Acusado de invadir fazendas, quase todas latifúndios improdutivos, em companhia de posseiros expulsos de outras roças, Canuto atrai o ódio dos novos ricos empenhados em aumentar seu patrimônio a qualquer preço na floresta amazônica. Em Rio Maria, havia ainda outro bom motivo para que essa oligarquia moderna, “cria da ditadura militar”, detestasse a presença de Canuto naquele lugar: ele era também um dos mais ativos militantes do PC do B na região.
Numa tarde escaldante de dezembro de 1985, João Canuto foi tocaiado e morto por dois pistoleiros de aluguel com 14 tiros à queima roupa, um deles na cabeça, um pouco acima da sobrancelha direita. Foi morto na rua, para que todos vissem. A multidão compungida, que acompanhou seu corpo pelas ruas, entoava hinos religiosos e cantava a música Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré. Canuto foi enterrado no novo cemitério de Rio Maria, onde a maioria das covas abriga centenas de posseiros, vítimas como ele, da violência no campo.
A cena do enterro é uma das páginas mais comoventes do livro. Nas faixas que seguiam à frente do cortejo, lia-se uma palavra de ordem: “Reforma Agrária, Já!” Na floresta de estandartes e galhardetes, que seguia o caixão, viam-se bandeiras do PC do B e do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Rio Maria.
O fazendeiro mandante do crime foi solto através de habeas corpus. Os assassinos foram também contemplados com o mesmo benefício. Libertado, o mandante deixou a região, cumpriu breve exílio voluntário em Goiás, e quando o caso esfriou, retornou a seus afazeres, no Sul do Pará.
O Processo foi engavetado e ninguém foi condenado. A família Canuto ainda perdera mais dois filhos, executados a mando do latifúndio. Em 93, permaneci dez dias em Rio Maria produzindo um Globo Repórter. Então, pude entender porque a violência e a impunidade se apossaram daquela região.
O livro de Cartaxo é um comovente libelo contra a barbárie no campo.
* Jornalista, apresentador do programa “Linha Direta” da Rede Globo, e escritor, autor de “As Noites das Grandes Fogueiras – Uma História da Coluna Prestes”, entre outras obras.
Resenha publicada na Revista “Saber” , Ano I – Nº 3, julho/agosto 2001, p. 31.
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