Carta O
Berro......................... .............................. ..repassem
Única
sobrevivente da Casa da Morte relata tortura, estupro e
humilhação
Por Chico
Otávio, Juliana Dal Piva e Marcelo Remígio ( Agência O Globo)
Como em todas as
batalhas que travou na vida, Inês Etienne Romeu diz estar pronta para mais uma.
Aos 69 anos, ela também quer colaborar com a Comissão da Verdade. Inês possui
vários títulos dos anos de chumbo, todos difíceis de carregar. Foi, por exemplo,
a última presa política a ser libertada no Brasil. A única prisioneira a sair
viva da Casa de Petrópolis, depois de 96 dias de tortura.
Só a partir de
um depoimento escrito por ela no hospital, em 1971, e entregue à OAB em 1979,
quando terminou de cumprir pena, foi possível localizar a casa e identificar
parte dos agentes que atuavam no local - entre eles o colaborador dos
torturadores, o médico Amílcar Lobo. Também é crédito dela saber que passaram
pela Casa da Morte alguns dos militantes desaparecidos na época, entre eles o
Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, que comandou Dilma Rousseff nos tempos
da VAR-Palmares.
- Quero
colaborar como puder - disse, com esforço, ao saber da reportagem sobre a Casa
de Petrópolis.
Foi ela que
cedeu ao GLOBO uma planta da casa, desenhada por um arquiteto a partir de suas
informações. Aos 69 anos, Inês se lembra de tudo e, aos poucos, volta a falar.
Vítima em 2003 de um misterioso acidente em sua residência, ela teve traumatismo
crânio-encefálico, com afundamento de crânio, e por pouco não perdeu a vida. Mas
está se recuperando. A voz custa a sair, mas está mais firme a cada dia movida
por uma força interior cuja origem só ela sabe. Os documentos guardados em seu
arquivo pessoal agora estão sendo intensamente lidos e relidos todos os
dias.
Militante da
VAR-Palmares, Inês integrou o grupo que participou do sequestro do embaixador da
Suíça, Giovanni Bucher, mas em 5 de maio de 1971 sua história como guerrilheira
teve um fim drástico. Capturada por uma equipe do delegado Sérgio Paranhos
Fleury, ela começou o calvário em São Paulo, mas foi trazida ao Rio no dia
seguinte.
Durante os 96
dias em que esteve presa, Inês foi torturada, humilhada e estuprada: "Eu estava
arrasada, doente, reduzida a um verme e obedecia como um autômato", contaria no
depoimento entregue à OAB, admitindo também três tentativas de suicídio durante
o cárcere. Ela só foi libertada quando fingiu concordar com dois de seus algozes
para trabalhar como infiltrada para o Centro de Informações do Exército. No
depoimento dado após a sua libertação, Inês não relatou o coronel Paulo Malhães
entre seus torturadores. Ele disse que nunca a viu na casa.
- Não vi a Inês
na casa, ela não me conheceu. Agora, a Inês foi libertada sem o cara avaliar se
ela estava realmente virada - criticou Malhães, que se recusou a dizer quem era
o agente responsável por "virar" Inês.
Inês confirma o
modus operandi detalhado por Malhães para quem se transformava RX. Ela relatou
que foi obrigada a gravar um vídeo no dia 4 de agosto, no qual foi filmada
contando dinheiro e lendo um contrato de trabalho com a repressão. "Neste
contrato constava uma cláusula segundo a qual, se eu não cumprisse o combinado,
minha irmã, Lúcia Etienne Romeu, seria presa, pois eu mesma, sua própria irmã a
acusava de estar ligada a grupos subversivos", relatou Inês. Libertada, doente,
foi levada pela família a um hospital, onde sua prisão foi oficializada.
Condenada à prisão perpétua, ficou presa até 1979, quando tornou público todo
seu martírio. Ela recebeu o Prêmio Direitos
No hay comentarios:
Publicar un comentario