Carta O
Berro......................... .............................. ..repassem
...0 tempo é escasso
-
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
...Nesta
vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
(Maiakovski)
Faleceu Vanderley Caixe, neste dia 13 de novembro de 2012.
Outorgado cidadão paraibano, graças aos trabalhos prestados em
prol dos Direitos Humanos na Paraíba, o reconhecimento público também se
estendia à conduta com a qual o Companheiro Vanderley Caixe havia se movido,
sofrido e vivido os tempos difíceis dessa última metade do século XX, alimentado
pelo calor dos que lutam em busca da dignidade humana.
Nascera Vanderley Caixe num momento de grande catástrofe moral e
política de nosso planeta. O nazismo e o fascismo se digladiavam
com os ideais de liberdade, solidariedade e autonomia dos povos. Era a Segunda
Guerra. O segundo flagelo mundial de nosso século. Um ano mais tarde, em 1945,
ao horror perpetrado por Hitler e Mussolini se somaria o inaugurado pelos
Estados Unidos em Hiroshima e Nagasaki: a bomba atômica. As armas, a partir de
então, seriam nucleares, mais potentes, enfim, para o sucesso das guerras
promovidas pelos países hegemônicos.
Aos dezesseis anos, em 1960, Vanderley Caixe ingressa na Juventude
Comunista. Preparava-se, assim, para atuar, de forma organizada, na luta pela
emancipação dos trabalhadores. É um tempo de desejo de mudanças... Tempos de
trabalhadores na rua... Tempos das Ligas Camponesas... Tempos de João Pedro e de
Elizabeth Teixeira levantarem o campo da Paraíba. Tempos de resistência, de
rebeldia.
Em 1966, Vanderley Caixe funda – juntamente com outros
Companheiros e Companheiras – a Frente Armada de Libertação Nacional.
Durante três anos, Vanderley dirigira essa organização política se opondo,
radical e simultaneamente, à ditadura civil-militar e ao regime capitalista. Mas
ainda não seria dessa vez. As armas da libertação foram vencidas pelo poder
bélico, institucional e financeiro da opressão. Em 1969, direção e membros da
Frente Armada de Libertação Nacional são presos. Desceria Vanderley Caixe
aos porões da ditadura.
Enquadrado na Lei de Segurança Nacional, Vanderley Caixe
percorreria vários cárceres do Brasil: Presídio Tiradentes, Presídio Wenceslau –
onde, em 1972, lidera uma Greve de Fome dos presos políticos – Presídio
Hipódromo, de onde sai para a liberdade em 1974. Saíra com cicatrizes no corpo,
mas a alma intacta. Conhecera, é verdade, a brutalidade, a infâmia e a torpeza.
Mas conhecera, também, a enorme beleza humana expressa pelo calor da
solidariedade daqueles que, como ele, enfrentaram o horror de nossas prisões e,
fora dos cárceres, persistiam na denúncia contra o
arbítrio.
Neste mesmo ano, Vanderley Caixe conclui o curso de Direito e
transfere-se para o Rio de Janeiro onde exerce advocacia no escritório do
Professor Sobral Pinto. Torna-se assessor e coordenador da Pastoral Penal do Rio
de Janeiro. Volta a escrever em jornais de oposição ao governo ditatorial. Em
1975, conhece a Paraíba. Em 1976, fixa residência em João Pessoa. Aceitara o
convite do Arcebispo D. José Maria Pires de criar e dirigir o Centro de
Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese da Paraíba. Vanderley Caixe
fundaria, então, o Primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil,
voltado para a defesa dos trabalhadores rurais e urbanos. É o primeiro advogado
da Aduf.
Em 1980, funda o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e
Educação Popular. Esse novo Centro seria acrescido de um trabalho
especificamente voltado para as mulheres camponesas. O seu resultado é o
lançamento da REVISTA VAMOS. Era tempo de reorganização. Da volta do
sindicalismo combativo, das oposições sindicais que iam varrendo as direções
pelegas e submissas aos patrões.
Quando de seu retorno a Ribeirão Preto em 1994 – cidade de origem
- Vanderley Caixe já havia atuado em quase duzentas áreas rurais em conflito em
nosso Estado. Na cidade paulista, instala o Centro de Defesa dos Direitos
Humanos, Assessoria e Educação Popular, permanecendo na luta junto aos
camponeses. Torna-se assessor jurídico do Sem Terra através da Rede Nacional dos
Advogados Populares, advogado dos presos políticos da América Latina, através da
Corte Internacional de Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da
ONU. Sua solidariedade atuante alcançaria nossos companheiros da América Latina,
entre eles, os integrantes da Frente Manoel Rodrigues, no Chile; do Tupac Amaru,
do Sendero Luminoso e as presas políticas da Argentina. Com as ferramentas das
novas tecnologias, Vanderley Caixe cria a Revista O Berro, de onde intervia, com
acuidade, acerca dos problemas do Brasil e da humanidade, em geral.
Como dizia Bertold Brecht, há homens que lutam um dia e são
bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há aqueles que lutam a vida
inteira. Estes são imprescindíveis. Com toda certeza, Vanderley Caixe faz
parte da galeria dos imprescindíveis.
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