Marisa Letícia y el feminismo de quien luchó en las calles – Por Denise Assis
Los
conceptos vertidos en esta sección no reflejan necesariamente la línea
editorial de Nodal. Consideramos importante que se conozcan porque
contribuyen a tener una visión integral de la región.
Marisa Letícia e o feminismo de quem lutou nas ruas
Simone de Beauvoir certamente a aprovaria
Houve
quem afirmasse que D. Marisa não foi uma “feminista”. É muito provável
que quando liderou a passeata de centenas de mulheres e crianças pelas
ruas de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 1980, D. Marisa nunca
tivesse mesmo lido um livro de Simone de Beauvoir. Porém, por intuição
ou escolha do seu jeito de viver, seguiu ao pé da letra um dos ditames
da escritora e filósofa, nascida a um oceano de distância dela, que era
uma mulher simples, do povo: “Querer-se livre é também querer livres os
outros”.
Naquele
dia, ao liderar a passeata, enfrentando a força da repressão ainda sob
as nuvens negras da ditadura civil/militar, Marisa certamente não
consultou nenhum manual feminista. O que a movia era a busca de justiça
para o marido e seus companheiros sindicalistas presos.
Cercadas
por policiais, tanques e cavalaria, elas saíram da Praça da Matriz e
caminharam pela rua Marechal Deodoro até o Paço Municipal, retomando à
Igreja da Matriz. Com a atitude, Marisa demonstrou, na prática, que era
livre para querer a liberdade do seu homem e de todos os outros que com
ele lutavam por melhores salários e melhor condição de vida para a
família.
Dali
por diante, conciliou de forma amorosa e discreta a sua agenda com a do
marido e a dos filhos, sem que dela se pudesse dizer que esteve ausente
da política, ou que nela houvesse pontuado mais que Lula, a grande
liderança. Soube como ninguém dimensionar a sua militância, sem turvar o
protagonismo do companheiro.
Não.
Acho que Marisa não leu Simone, mas talvez Simone aprovasse Marisa,
entendendo-a como a mulher simples que foi, sem perder a essência da
mulher de seu tempo, que foi evoluindo na medida em que as situações o
exigiram. Com suavidade, marcou fortemente a história do país. Passou
pelos cenários mais diversos, de luxo ou da periferia, entrando e saindo
de cena, com a discrição que entendeu que devia. Não a vimos exorbitar,
tampouco se omitir. Marisa ocupou o espaço que escolheu ter para si. O
de companheira. Foi como se o tempo todo repetisse baixinho um outro
pensamento de Beauvoir: “Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a
liberdade seja a nossa própria substância”.
(*) Colunista do Cafezinho
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